Lóide e Eunice - Mulheres que estavam certas do poder da palavra de Deus

"O Senhor Jesus era uma realidade viva para mim. Quando eu era ama muito criança, a minha mãe contou-me como Ele amava tanto as crianças e queria viver nos sus corações. Eu devo-Lhe ter pedido para entrar, embora não saiba como e quando isso aconteceu". Corrie ten Boom *



Os nomes de Lóide e Eunice não se podem separar. Isso não acontece por se tratar de mãe e filha, mas por causa da sua fé sincera e da sua visão das Santas Escrituras. No entanto, o mais importante de tudo é que ambas tinham interesse por Timóteo, filho de Eunice e neto de Lóide.
Os nomes delas aparecem uma única vez na Bíblia. Mas, partindo só desse fato, não se pode tirar a conclusão de que as suas vidas não foram importantes, ou de que a sua influência foi relativamente pequena. O contrário é que é verdade.
Os nomes destas duas mulheres ficaram para sempre na história por causa da impressão indelével que deixaram no apóstolo Paulo, um dos maiores evangelistas e autor de grande parte do Novo Testamento, incluindo duas cartas a Timóteo.
Por volta de 67 A.D., Paulo incluiu estas palavras na última carta que, de Roma, enviou a Timóteo: "Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há", escreveu ele, "a inclinação de toda a tua personalidade para Deus em Cristo, em absoluta confiança e segurança no Seu poder, sabedoria e bondade, uma fé que habitou primeiro e de modo permanente no coração da tua avó Lóide e da tua mãe Eunice, e que, estou certo, também existe em ti" (2 Tim. 1:5).
A perseguição aos cristãos tinha começado durante o domínio do imperador Nero, alguns anos antes, e tinha culminado com um terrível incêndio que o próprio imperador provocou, mas pelo qual culpou os cristãos. Desse modo, ele pôde arranjar uma justificação para os perseguir.
A tradição afirma que Paulo caiu vítima dessa perseguição. Preso em Roma e aguardando a morte, escreveu ao seu "filho na fé" Timóteo (2 Tim. 1:2). Estava ansioso por ver o seu fiel e amado colaborador pela última vez (2 Tim. 4:9). Paulo sabia que a sua vida terrena estava prestes a terminar. O seu serviço estava quase completo. Mas através de Timóteo (e de outros) o trabalho que ele havia começado iria continuar. Nesta carta, o homem que o tinha acompanhado em tantas viagens – o cooperador que ele havia mandado a diferentes igrejas – ia receber as instruções finais do seu líder e mestre. Essa orientação ajudaria Timóteo a executar as tarefas que ele e outros estavam a receber de Paulo.
A razão por que Paulo podia escrever que tinha combatido o bom combate e que vivia na expectativa de receber a coroa da justiça (2 Tim. 4:7-8) também tinha a ver com Timóteo. Paulo estava convencido de que a educação espiritual e a ajuda que havia dado a Timóteo não iria parar ali, pois Timóteo já tinha revelado que guardara no coração as lições que tinha aprendido... Mais uma vez, o Apóstolo orientou-o em relação às tarefas que o aguardavam. "E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste confia-o a homens fiéis", dizia Paulo, "que sejam idôneos para também ensinarem os outros" (2 Tim. 2:2).
No que dizia respeito a Paulo, esse ensino tinha começado cerca de vinte anos antes, em Listra. Aí, ele tinha tido um breve encontro com Timóteo enquanto pregava durante o que constituiu provavelmente a sua primeira visita a essa parte do mundo (Atos 14:9-7).
Desde o princípio, o Apóstolo tinha ficado impressionado com o caráter nobre desse rapaz e a sua vida de temor a Deus. Paulo verificou que Timóteo gozava de uma boa reputação, tanto entre os cristãos locais, como entre os da vizinha Icônio. Com uma preparação adequada, ele poderia tornar-se um instrumento útil no serviço de Deus, porque tinha sido ensinado nas Sagradas Escrituras desde a infância.
Por mais excelente que pudesse ter sido a educação bíblica que Timóteo recebera da mãe e da avó, ela não podia substituir a conversão. Essa continuava a ser indispensável. Portanto, Timóteo teve primeiramente de se converter. Pouco depois da conversão de Timóteo a Cristo, Paulo começou a cuidar dele, treinando-o cuidadosamente no serviço de Deus.
Todavia, a instrução inicial de Timóteo não viera de Paulo. Originara-se, sim, no ensino recebido anos antes sob a direção de Lóide e Eunice. Paulo colheu o que outros haviam semeado.
Quando o menino nasceu, os pais deram-lhe o nome de Timóteo, que significava "aquele que teme a Deus". Mas esse nome foi provavelmente escolhido mais pela mãe judia do que pelo pai grego.
Por que razão Eunice, que temia ao Senhor, casou com um pagão, continua a ser um mistério. Não se sabe se isso aconteceu com o consentimento de Lóide, ou sem ele. Talvez nenhuma das mulheres fosse cristã nessa altura. Qualquer que fosse o caso, o marido de Eunice não tinha um encontro com o Deus em que ela cria. Em conseqüência, Timóteo permanecia sem se circuncidar.
Teria o pai morrido cedo? Seria por isso que a educação do moço teve de ficar a cargo da mãe? Será que Eunice, sendo viúva, teria de ganhar a vida e, portanto, deixou a educação do filho à responsabilidade da avó?
Assim Timóteo foi educado nas Sagradas Escrituras. Essa instrução foi um enorme privilégio que jamais poderia agradecer suficientemente a Deus. Timóteo devia essa educação religiosa à mãe e à avó. Desde a sua mais tenra infância, tinha sido ensinado na Palavra de Deus.
Lóide e Eunice não pensavam, Vamos educá-lo de forma "neutra" e depois, mais tarde, ele poderá fazer as suas próprias decisões. Também não argumentaram, Ele é ainda muito criança. Mais tarde, quando puder entender melhor as coisas, começaremos a ensinar-lhe a Palavra.
Lóide e Eunice davam grande valor à Bíblia e aproveitaram todas as oportunidades para a ensinar cuidadosamente ao menino. Tanto a mãe como a avó não instilaram apenas um conhecimento teórico em Timóteo. Dia após dia, elas mostravam pelas suas próprias vidas como é que a fé se podia aplicar na prática. Isso ajudou a moldar o seu caráter.
Claro que nesse ensino elas não podiam ir além do conhecimento que possuíam. Como mulheres judias que viviam numa terra estrangeira, provavelmente não sabiam mais do que o conteúdo do Velho Testamento, A mensagem de que o Messias esperado tinha vindo na pessoa de Jesus de Nazaré e que Ele oferecia o perdão dos pecados não lhes era inteiramente clara. A boa nova de que Deus estava agora ao alcance de todos os que criam em Cristo era algo que se tornou conhecido através das mensagens de Paulo.
Por mais que a fé da mãe e da avó tivessem penetrado na vida do rapaz, isso não o salvava. Ele próprio tinha de chegar a fazer uma decisão pessoal por Cristo. Como Paulo, também ele tinha de crer que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores (1 Tim. 1:15; Atos 16:31). Tinha igualmente de aceitar que era pecador.
O futuro mensageiro do Evangelho tinha de crer, ele próprio, primeiro no evangelho. Tinha de crer que Jesus Cristo morreu, foi sepultado, ressuscitou dentre os mortos, segundo as Escrituras (1 Cor. 15:3). Precisava entregar a vida a Cristo a um nível pessoal.
Quando o apóstolo chegara a Listra anos antes, Deus provou a verdade da profecia de Isaías. A Sua palavra não voltaria vazia; iria realizar a obra que Ele se propunha fazer (Isa. 55:11). Timóteo, filho de Eunice e neto de Lóide, tornou-se o "filho no Senhor" de Paulo. O Apóstolo tornou-se seu pai em Cristo Jesus através do evangelho (1 Cor. 4:15,17).
Porque a mãe e a avó, pelo poder do Espírito Santo, tinham semeado generosamente essa Palavra no coração receptivo de uma criança é que se verificou o seu novo nascimento depois da pregação de Paulo (1 Pe. 1:23).
Teriam Lóide e Eunice rogado a Deus o cumprimento das palavras que o ilustre rei Salomão havia escrito, "Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele"? (Prov. 22:6)
Timóteo tornou-se primeiro cristão e depois um ativo mensageiro de Jesus Cristo, um embaixador de Deus (2 Cor. 5:20). Tornou-se um homem que falaria às pessoas das boas novas do evangelho (2 Tim 4:5). A sua vida adquiriu valor eterno. Foi um homem sábio que "resplandecerá como o resplendor do firmamento", porque "ensinou a muitos a justiça" (Dan. 12:3).
Que mãe, que avó, poderia esperar mais rico fruto do seu ensino?! Quão profundamente gratas se devem ter sentido esta mãe e esta avó quando Timóteo iniciou a sua missão de pregar o evangelho! Instruindo Timóteo nas leis dos hebreus, Lóide e Eunice não lançaram apenas a base para a conversão de Timóteo; prepararam-no também para o trabalho da sua vida.
Quando ele, ainda rapaz, deixou Listra para acompanhar Paulo em substituição do seu primeiro colaborador, Barnabé, tinha pela frente uma pesada tarefa. Teria de fazer longas viagens que poderiam arruinar a sua constituição basicamente fraca. Ver-se-ia envolvido em dificuldades contra as quais a sua natureza sensível e tímida dificilmente poderia agüentar-se.
Timóteo iria precisar da Palavra de Deus que Lóide e Eunice lhe tinham comunicado, em todos os dias da sua vida. Teria de se apegar a ela, viver por ela e usá-la como preparo para a eternidade. Não a poderia dispensar na vida quotidiana. Constituía o seu conforto, a sua força, a sua bússola.
Para poder ser um servo de Deus apto para a sua missão e equipado para toda a boa obra, Timóteo iria orientar-se pela Palavra. Seria instruído e corrigido por ela, que continuaria a prepará-lo no sentido de um caráter piedoso. A Palavra que Timóteo aprendera a amar e a obedecer no lar iria também inspirá-lo e revelar-se um instrumento necessário para o treinamento de outros nas verdades bíblicas.
O elo de fé que passou de Lóide para Eunice e desta para Timóteo não parou aí. Através dele, muitas outras pessoas viriam a abraçar a mesma fé e seriam estimuladas e instruídas na pregação do Evangelho. Ele permanecia em cooperação com Paulo até à morte do apóstolo, e o fato de Paulo lhe ter pedido que viesse a Roma para o confortar, nas suas últimas horas terrenas, mostra a afeição que os unia (2 Tim. 4:9).
Naturalmente, Eunice e Lóide não conheciam os grandes planos que Deus tinha para Timóteo. Também Mônica não sabia qual o papel que o seu filho, Agostinho, iria desempenhar na história da igreja. A mãe de Billy Graham não podia imaginar quantas pessoas se tornariam cristãs através do ministério do seu filho. Deus tem surpresas maravilhosas para as pessoas, para as mães e avós que confiam em Deus, para abençoar os seus queridos.
Quão facilmente as vidas de Lóide e Eunice – duas mulheres sem importância especial que viviam na Ásia Menor (hoje Turquia) – poderiam ter permanecido anônimas.
Desde que elas viveram, a Bíblia foi traduzida em centenas de línguas e distribuída em milhões de exemplares. Até aos nossos dias, os leitores da Bíblia em todo o mundo continuam a encontrar-se com Lóide e Eunice, duas mulheres que estavam certas do poder da Palavra de Deus e da influência que ela tinha sobre a vida humana.

Lóide e Eunice, mulheres que estavam certas do poder da Palavra de Deus (II Timóteo 1:5; 3:14-17; Atos 16:1-3)




in "Seu nome é mulher 2" - Gien Karssen